As imagens são chocantes. Um homem sem uma das pernas, cadeirante e sem enxergar, tenta subir as escadas de um ônibus comum, sem elevador, para viajar em busca de atendimento médico. Seu nome é Reginaldo, paciente do Tratamento Fora de Domicílio (TFD) da cidade de Salgueiro (PE), e seu relato escancara a dura realidade de quem depende do poder público para sobreviver.
Reginaldo enfrenta um tratamento doloroso nos rins, passa por hemodiálise e convive com infecções, febre e dores constantes. Mesmo com todas essas limitações, teve sua cirurgia cancelada por falta de transporte:
“No dia da minha cirurgia dos rins, que lutei anos para conseguir, cancelaram o carro na hora de sair, à meia-noite. Disseram que o veículo estava com defeito. Perdi a cirurgia e voltei pra fila de espera.”
A situação, por si só revoltante, é apenas parte do drama. Em outros momentos em que o transporte foi liberado, Reginaldo foi deixado no meio da estrada, tendo que se virar sozinho para chegar ao hospital, às consultas ou à casa de apoio:
“Nem sempre é o mesmo ônibus, e muitos não têm acessibilidade. E quando tem, me deixam no meio do caminho. Eu sou cadeirante, estou sem enxergar e sem uma perna. Como vou me virar sozinho?”
Constrangimento, risco e abandono
O vídeo divulgado por Reginaldo mostra o que nunca deveria acontecer: uma pessoa com múltiplas deficiências físicas sendo forçada a descer da cadeira de rodas e subir escadas para ter acesso a um transporte inadequado. Um símbolo cruel do que é ser invisível para o sistema.
“Não quero exclusividade. Mas, se é um direito, eu exijo. Passo por constrangimentos que poderiam ser evitados se tivesse um transporte adequado. Já perdi cirurgias, consultas… e continuo lutando sozinho.”
Ele ainda denuncia que, ao questionar a falta de estrutura, é tratado como se estivesse pedindo demais:
“Me perguntam se o ônibus tem elevador, se tem cadeira adaptada. Mas nem sempre é o mesmo ônibus. E se o único carro quebrar, a gente fica sem atendimento mesmo?”
Direito à saúde está sendo violado
O Tratamento Fora de Domicílio (TFD) é um direito previsto pelo SUS e garante transporte digno para pacientes em tratamento em outras cidades. No caso de pessoas com deficiência, há legislação específica que assegura acessibilidade, acompanhamento e condições humanas de deslocamento.
O que está sendo relatado por Reginaldo não é descuido, é abandono institucionalizado. Negar a ele transporte adequado é negar dignidade, saúde e até a chance de viver.
Indignação e silêncio oficial
O caso gerou repercussão nas redes sociais e revolta entre cidadãos e lideranças locais. Até o momento, a Prefeitura de Salgueiro e a Secretaria Municipal de Saúde não emitiram nota oficial.
Enquanto isso, Reginaldo segue enfrentando a doença e o abandono com coragem, expondo o que muitos vivem em silêncio. Ele não pede privilégio — apenas o que já é seu por direito.
Deixe um comentário