Nos últimos anos, a crise hídrica que afeta Pernambuco, e especialmente o Sertão, tem sido tema constante de discussões e críticas no meio político. Em Salgueiro, os vereadores da cidade não economizaram palavras quando o assunto era a falta d’água e o descaso da gestão do ex-governador Paulo Câmara com os problemas relacionados à Compesa. A cobrança era frequente, e muitos dos parlamentares locais faziam discursos inflamados, acusando a gestão estadual de inércia e falta de soluções para a grave crise de abastecimento de água.
No entanto, algo curioso ocorre agora, com a mudança de governo. A governadora Raquel Lyra assumiu o comando do estado, e, ao contrário do que se esperava, os mesmos vereadores que anteriormente apontavam o dedo para o governo anterior agora se calam, como se a crise hídrica tivesse se esgotado ou, no mínimo, diminuído. A situação, no entanto, é outra. E o mais alarmante: os moradores das zonas rurais de Salgueiro estão, novamente, sofrendo com meses sem água.
Durante a gestão de Paulo Câmara, a Compesa, empresa responsável pelo abastecimento de água no estado, enfrentou muitos desafios. Contudo, diversos investimentos foram realizados, como a perfuração de poços, a ampliação de sistemas de adução e o apoio a ações emergenciais para minimizar o impacto da crise. Em muitos momentos, o governo estadual foi criticado, mas as ações de enfrentamento da seca foram visíveis e buscavam amenizar o sofrimento da população.
Com a chegada de Raquel Lyra ao poder, no entanto, a situação voltou a piorar, principalmente para as comunidades rurais que dependem de sistemas precários e da boa vontade do poder público para o abastecimento. Em algumas localidades, já são meses de interrupções no fornecimento de água, o que tem gerado imensa preocupação entre os moradores, que estão completamente à mercê de cisternas e carros-pipa para conseguir suprir a necessidade básica.
Mas o mais incompreensível nesse cenário é a postura dos vereadores de Salgueiro, que antes eram tão vocais nas críticas ao governo de Paulo Câmara, mas agora parecem estar em total silêncio, talvez por uma questão política. O fato é que muitos desses vereadores eram ferrenhos opositores do ex-governador, mas agora, com o novo governo de Raquel Lyra, preferem não tocar no assunto. Por que será? A quem interessa esconder a realidade das famílias que ainda sofrem com a falta d’água? Por que não cobram da governadora ações emergenciais para garantir o abastecimento para as zonas mais afetadas?
Essa omissão política é, no mínimo, uma traição àqueles que mais necessitam. As famílias mais pobres, especialmente as da zona rural de Salgueiro, são as mais prejudicadas pela falta de água. O sofrimento da população parece não ter a mesma importância para os vereadores que, ao longo do tempo, prometeram ser a voz da cidade, mas agora se mantêm em silêncio, sem pressionar o novo governo para tomar providências urgentes.
Enquanto isso, a população continua a enfrentar os efeitos da seca, sem perspectiva de melhora no curto prazo. A questão da água não pode ser tratada com picuinhas políticas, nem como moeda de troca para ganho eleitoral. O que está em jogo é a vida das pessoas, especialmente as mais vulneráveis, que dependem da ação do poder público para garantir esse direito fundamental. A pergunta que fica é: será que os vereadores de Salgueiro vão continuar a se calar enquanto seus conterrâneos continuam a passar sede?
É urgente que a população cobre de seus representantes um posicionamento firme e ações concretas em favor da crise hídrica. O jogo político não pode ser mais importante do que o bem-estar da população, especialmente em tempos de escassez. A esperança é que os vereadores voltem a ser a voz ativa da cidade, independentemente de quem esteja no poder, para que as soluções para a falta de água cheguem de fato aos que mais precisam.